Sejais Carnavalescos

O florir no chão, as folhas nas árvores, o canto pungente das aves,

As mãos da primavera semeando a fertilidade em tudo:

Fuzilai a Razão! O frenesi dionisíaco esteja em nossas orgias,

Bebemos e bebemos o vinho das euforias que ao tédio deixa mudo.

Sejais, meus compatriotas, sejais carnavalescos.

Mesas derrubadas, máscaras coladas nos rostos dos reis e dos criminosos;

Homens e mulheres despidos copulando como cães no cio nas florestas,

A vontade dos deuses é inquestionável: satisfaçam as vontades da carne,

Dancem, gritem, façam sexo grupal; teu corpo é túmulo de todas as festas.

Corpos e rostos pintados, o bloco das loucuras desfila em nossas ações reprimidas;

Pobres encenam que são imperadores, homens vestidos com roupas femininas,

Ricos e pobres, pretos e brancos, todos aparentam ser iguais no cortejo das ilusões;

Meninas bêbadas nas calçadas, garrafas e almas quebradas com endorfinas nas retinas.

Sejais, meus compatriotas, sejais carnavalescos.

As jovens entorpecidas se prostituem nos carros, nas igrejas, nas praias, nos motéis;

Baco, com sua jarra de mentiras, caminha em cada pulsar do coração e das festividades;

Sexo oral nos mantos da noite, todos dançam e cantam ao som dos salmos das sereias,

A vida esquecida, a vida celebrada, a vida iludida: o tédio é o deus de nossas realidades.

Os desejos mais insanos e devassos do corpo estão livres das máscaras e regras sociais,

Somos os rios de nossos impulsos primitivos, teu jejum é o orgasmo de tuas repressões;

Nossa abstinência são os delírios sexuais, de se entorpecer, de nada e tudo ser;

Teu santuário é a penetração do vinho, é o gozo da própria dor, é o sêmen das fricções.

Sejais, meus compatriotas, sejais carnavalescos.

Dionísio guerreia violentamente nos vales escuros desse teu coração hesitante e cristão.

Sejas libertino: a carne despreza o espírito, mas o espírito dionisíaco fomenta a carne;

Dualidades mortas: Bem ou Mal, Luxúria ou castidade! Viver dói e já é tarde.

Vede: o vinho das lascívias e dos desregrados transborda das jarras vazias de nosso ser.

Sejais, meus compatriotas, sejais carnavalescos.

Não queremos mais ser quem nós supomos quem somos.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/02/2015
Reeditado em 15/02/2015
Código do texto: T5137949
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