Você Poderá Andar Ao Meu Lado
Sem dinheiro, sem água, sem futuro,
o sol quente queimando sem misericórdia.
Ainda sim
me sinto genuinamente feliz
olhando as formigas carregarem as folhas
que estão caídas pelo chão...
E eu, não consigo te explicar.
Essa curiosidade repentina,
em coisa alguma,
essa felicidade momentânea
melhor não há,
não há sorte maior.
E para mim ela é tão pequena,
tão rara.
Não me acho uma pessoa triste,
tampouco constantemente alegre.
Sou muito quando sou o momento.
Mas se você me ver sorrindo,
sentado no ponto esperando pelo
transporte público,
ou brincando com um animal de rua,
dirigindo meu Chevrolet pelas avenidas
com um sorriso insano
e o som alto,
ou descendo a serra do mar
ao lado de quem amo
e quero amar,
saiba que meu riso
é verdadeiro
e a vida está sendo generosa
e eu estou vivendo
num mundo de almas mortas,
mas sigo insistindo
em viver
E você perceberá
que minha mente é tempestade,
que meu coração é constante chuva,
de chuva que não para
(nunca parou),
de chuva que não conhece muito fim
(nunca conheceu),
mas que enfim conhece
e para,
e a tempestade
meio que me é meu charme.
Você poderá andar ao meu lado,
segura que o melhor que você tem para oferecer,
me aquece mais que qualquer fogo.
Você poderá andar ao meu lado,
segura da minha loucura
e do meu amor desvairado.
E nós caminharemos como iguais,
sorrindo e uivando e beijando-se
sem se importar com os outros,
com empregos, com o clima,
nos espalhando
pelas pequenas dunas de fina areia,
pelas ondas gentis do raso,
pelas pedras da rebentação,
dando chance a todas as chances
e truques do acaso