DO MARAGATO AO CHIMANGO
Outubro, dia vinte e cinco,
As seis e meia em ponto,
Estando ainda meio tonto
Escutei com muito afinco,
Potreadas de trinta e cinco
Da garganta do payador,
Ouvi-te assim: cantando flor –
É pena seres azul -,
No BRASIL GRANDE DO SUL
O voo do macho condor.
Que grande felicidade
Toma-me neste momento,
Destapo meu pensamento
Recoberto de humildade,
Bendigo a oportunidade
Com alegria incomparável,
Ante o VATE INIGUALÁVEL
Crioulo cantor missioneiro,
Atiro no mais o baixeiro
Esperando ser amável.
Amambaí - Mato Grosso
A saudade nos devora,
Agora nesta grata hora
Eu me sinto em alvoroço
E daria meu pescoço
Para sentir um "minuano",
Como touro de sobre ano
Quando está encurralado,
Eu me sinto transmudado
Longe do solo pampiano.
Mas pra que tanta tristeza
Se aqui também é Brasil,
Assoma-me estranho e viril
O desejo de grandeza
E olhando a natureza
Sem tapumes, sem divisa,
A vastidão me eterniza
Chapadão interminável,
Sou macho potro indomável
Passando pela baliza.
E o bordonejo ao violão
Do grande Noel Guarany,
Lembro o que quase esqueci
Em noites de Tradição,
Quando o Rio Grande pagão
Numa escaramuça bagual,
Da fronteira ao litoral
Em cargas de civismo,
Mostrando todo o gauchismo
Na defesa do ideal.
“Alegrete Centenária"
Uma cópia, pois te peço,
E sabendo do sucesso
Que tem, tua grande poesia,
Para eu, é tamanha a valia
Do que cantas com afago
E corcoveia o índio Vago
No pampa lá pelo além,
Peço mandares também
Cópia da "Agonia do Pago”!
E alguma poesia que tenhas
Guardada no velho baú,
Mande-a para este chiru
Para que aqui se entretenha,
Declamando a quem convenha
A quem goste na verdade,
Para matar a saudade
Que em nosso peito se expande
Das Tradições do Rio Grande
Marco de hospitalidade.
Eu já possuo de sua lavra
O grande GALPÃO DE ESTÂNCIA
Que é gaudério de distâncias
Honrando a sua palavra,
Taura Bueno que desbrava,
Que DE FOGÃO EM FOGÃO,
Bate tição com tição
Numa liturgia pagã,
Os fiapos do picumã
É glória do meu rincão.
Grande POTREIRO DE GUACHOS
O tutano do cantor,
Do campônio payador
De chapéu com barbicacho,
Possuo, pois também me acho,
Humilde colecionador,
Também sei cantar "flor"
Num embido caborteano,
VOCABULÁRIO PAMPEANO
Nos mostra o que vale o autor.
Só sei dizer caro amigo
Se me permite que o trate,
Pois chegando ao arremate
Num coro orando contigo,
Quero dizer e não digo
Nestas linhas que te escrevo,
Não me atrevendo, me atrevo,
Ante o VATE EXPONENCIAL,
Numa ode tradicional
E breve, não sei se devo.
Do Serrano ao Missioneiro
Pois que sou de Vacaria,
Tenho carta de alforria
Do meu solo brasileiro,
Aqueço-me no braseiro
Do fogo da Tradição,
Sou potrilho redomão
Das coisas do nosso pago,
Mas ainda comigo trago
Supremo amor ao Rincão.
Vão quase vinte e dois anos
Entre o recado e o momento,
Té parece esquecimento
Demora do Vacariano,
Mas troteando meio haragano
Andei lá pelo Amazonas,
Pisei a selva redomona
Pra cumprir a minha sina
E do Pico da Neblina
Mirei a lua, de carona.
Selei o pingo matreiro
Pra buscar outras aguadas,
Nas praias ensolaradas
Aqui do Rio de Janeiro,
Onde o Cristo Altaneiro
Vigiando diuturnamente
Norteia qualquer vivente
Mostrando-lhe o rumo certo,
Mesmo andando por perto
As cariocas eloquentes.
Humildemente esperando
Uma resposta qualquer,
Venha do jeito que vier
A chaleira está chiando,
O fogo vou reavivando
Colocando-me ao dispor,
Podes chegar sem temor
Neste rancho de argamassa,
Pra descansar a carcaça
E tentearmos uma flor.
Anchieta-RIO-RJ, 3 de janeiro de 1995