UM MERGULHO NA CERVEJA
Pare contemple e veja
Nos olhos de quem bebe uma cerveja
Sentado numa mesa
Perceba quanto mel escorrendo
Nos favos paralelos de seu olhar
Um jardim de inúmeras recordações
Como borboletas douradas voando num gole
Invadindo-lhe o carente e absorvente corpo
Deixando sua alma mais alva e leve
O desbotado cinzento do dia
Vai se desvanecendo virando polens encantados de poesia
E colorindo seu jardim com perfumes dormentes de lúpus
Uma viagem neuronal lhe implode por dentro
Assim como a bebida gasosa explode como rebento risível
Junto á superfície do copo quase que imperceptível
E junto à cerveja
Um gozo maltado ruminantemente o corteja
Sua envolvente musa loira o entorpece enfeitiça
Tudo é festa que se refestela
Nesta dança amarela tudo esvoaça e tudo viça
Enquanto ele vira a página a nostalgia se rasga
E o mundo a cada copo se contagia e gira
Bebe ele o mar de sua escuma
A viagem do louco não para ele agora flutua
O mundo agora lhe pertence e o cultua
Se sente como um Deus Netuno que a tudo vence
Em suma um supra-humano audaz como um puma
Está no topo no auge do império Asteca
Como o governador Montezuma...
Palavras tortas lhe saem e por todos os cantos se arruma
Se sente nos píncaros do universo vivo e sem conta giro
Está em verso e prosa dissertativo argumentativo e gustativo
E as caprichosas neves das horas escorrem displicentes de seus lábios
Marcados sutilmente por um batom leve como a pluma
Delineados carinhosamente pelas brumas gasosas da espuma...