Tudo é poesia
A bailaria que rodopia
O rouxinol e a cotovia
A mãe que o filho acaricia
O beijo quente que arrepia
O ego inflado, a idolatria
A droga que as dores abrevia
O coração em agonia
O sol nascente e o fim do dia
A desistência e a teimosia
Tudo é poesia...
A insistência, a covardia
O sofrimento que contagia
O abraço forte, a boemia
O romantismo, a baixaria
O entusiasmo, a nostalgia
Sorriso franco que irradia
O fingimento, a hemorragia
O amigo em quem você confia
O complicado, a cortesia
Tudo é poesia...
O pão que a fome alivia
O ódio que a vida surrupia
O enlutado e a folia
O desnatado e a caloria
O solitário, a melancolia
O surreal, a fantasia
O vinho tinto que embebecia
O sol cortante que a pele ardia
O amor que às vezes aparecia
Tudo é poesia...
A farta ofensa que angustia
O julgamento, a revelia
A audiência que concilia
Leite quentinho na padaria
Humor que tange a monotonia
Calor que aquece a noite fria
A vaca insone na estrebaria
Seu João que ama dona Maria
Tudo é poesia...
A juventude tão arredia
Terra molhada, quando chovia
O lábio unido que assobia
Paixão tão boa que florescia
Nuvem pesada que anuvia
A falha que nos anistia
O aprendiz que principia
A febre, a tosse, a alergia
A morte que a vida renuncia
Casinha de sapê ou alvenaria
O bom comportamento, a rebeldia
O dom, o livramento, a ventania.
Todos os mandamentos, a alegria.