Tudo é poesia

A bailaria que rodopia

O rouxinol e a cotovia

A mãe que o filho acaricia

O beijo quente que arrepia

O ego inflado, a idolatria

A droga que as dores abrevia

O coração em agonia

O sol nascente e o fim do dia

A desistência e a teimosia

Tudo é poesia...

A insistência, a covardia

O sofrimento que contagia

O abraço forte, a boemia

O romantismo, a baixaria

O entusiasmo, a nostalgia

Sorriso franco que irradia

O fingimento, a hemorragia

O amigo em quem você confia

O complicado, a cortesia

Tudo é poesia...

O pão que a fome alivia

O ódio que a vida surrupia

O enlutado e a folia

O desnatado e a caloria

O solitário, a melancolia

O surreal, a fantasia

O vinho tinto que embebecia

O sol cortante que a pele ardia

O amor que às vezes aparecia

Tudo é poesia...

A farta ofensa que angustia

O julgamento, a revelia

A audiência que concilia

Leite quentinho na padaria

Humor que tange a monotonia

Calor que aquece a noite fria

A vaca insone na estrebaria

Seu João que ama dona Maria

Tudo é poesia...

A juventude tão arredia

Terra molhada, quando chovia

O lábio unido que assobia

Paixão tão boa que florescia

Nuvem pesada que anuvia

A falha que nos anistia

O aprendiz que principia

A febre, a tosse, a alergia

A morte que a vida renuncia

Casinha de sapê ou alvenaria

O bom comportamento, a rebeldia

O dom, o livramento, a ventania.

Todos os mandamentos, a alegria.

Alessandra Cavalcanti
Enviado por Alessandra Cavalcanti em 07/05/2014
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