Noite de Chuva
A noite de chuva só prometia muitas dúzias de guarda-chuvas espalhados pelas ruelas. Transeuntes passavam apressados tentando se livrar do incômodo molhado de suas roupas, visto que o vento ajudava a encharcar a cada segundo de finas gotas de chuvas que se estendiam pelos tecidos das vestes expostas ao ar livre.
Nas estradas acinzentadas visualizava-se a arquitetura colonial envelhecida por causa do tempo, utilizadas como restaurantes que serviam comidas de vários tipos. Só se ouvia o barulho dos talheres e ninguém nos limiares das portas talvez com receio de se molharem.
Havia cheiro que café no ar misturado com o som da cafeteira, manifestando o fim do seu trabalho ao fazer a água passar o café.
A chuva era fina e por isso não fazia tanto barulho.
Nuvens cinza se torciam lá de cima e não paravam de jorrar água sobre aos seres da terra e, sobre os carros parados nas beiradas sem motor.
Pés insistentes se apressavam cada vez mais, uns com passos apertados e outros com passos largos, faziam barulho no momento de sair de um lugar para outro.
Um senhor, com uma voz envelhecida, reclamava da chuva incessante.
Um meio curinga, tentando ficar invisível aos olhos de todos, foi ao encontro da avalanche de finas linhas de água, levou o rosto aos céus e deixou que as gotículas inundassem sua face taciturna, como se aquilo fosse algo extraordinário e tudo o que ele precisasse naquele momento.
A noite se escondia no manto prateado. As estrelas estavam boiando e não se encontrava nenhuma parada, no mar negro celestial.
Horas depois, o vento soprava tédio. Não havia mudado nada.
Todas as chuvas parecem não ter fim, e esta menos ainda.
Vontades se zangavam não querendo se molhar.
A lua nadava no céu. Estava enfiada na imensidão das curvas do espaço molhado e infinito.
E tudo isso só uma noite de chuva.