Motivos para gozar a vida
Deixe-me cantar, que um dia ficarei mudo
Num dia que de tanto versejar o vaso secará
A inspiração sairá, o querubim saltar de meus ombros
E eu a desfalecer
Poeta, tua inspiração me inquieta,
Sois a voz dos céus, o âmago de Deus,
Os sentimentos mais universais,
O que enuncias podre, mas é meu
Continue a escrever, tua pena exaure minh'alma,
Me acalma, me tira o peso, o medo, o leso
Por favor, não pare, não consigo aguentar,
O mundo está apertado, sofro calado, alado a lamentar
A ira sai no borrão, a gaveta é o porão
Dos mais loucos sonhos de um admirador do cantar
Canto porque o amor existe, sua vivência é triste,
Sou o pedaço do amor tresloucado, sou poeta, sou amado
Dos tristes becos serei o poste,
Do caminhar, os bosques. Da vida, a sorte
Serei eu azarado demais para morrer,
Ou feliz demais por fenecer, não sei, continuo a escrever
Versos que me saltam a veia, que pintam a areia,
Que fervem as águas de meu mar
Serei hermético quando precisar, enigmático quando calhar,
Hoje sou barroco, já não sei o que pintar
Por favor, se é que existe céu, deixe um pedaço das nuvens,
O marco daquilo que não posso alcançar
Mas vivo todo dia para admirar
Sim, e como quem não morrerá cantarei seu matiz
Alvo de meu olhar
Alvo daquilo que é imaculado,
E onde saberei que morri,
Quando gélido e frio estiver ao lado.
Gabriel Amorim 21/10/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/