Um Pouco à Tarde
Lou Reed, Bob Dylan, Wladimir Herzog,
Monsueto, Grande Otelo, Zozimo Bulbul,
Elizete Cardoso, Ângela Maria, Dalva de Oliveira
Não necessariamente nessa ordem
Que desordem
Muitos faltam, vão chegando
Quase que ao absurdo
Surdo da Império Serrano
Tião Medonho, Lúcio Flávio
O passageiro na agonia
Tudo passa, é ironia
A menina é assanhada,
Presepeira, sabe que é boa,
Gostosa, enxuta.
Não é uma filha da puta
É manhosa, maneira
O padrinho tá ali,
Compenetrado,
Ilustrado, iluminado,
Sabe tudo
É o rei da demanda
Tudo manda
Tudo decide,
É quem dá as ordens,
Que ninguém duvide,
É o piano
E ela, a guitarra.
Che Guevara não cantou salsa
Como Ismael Rivera
Mas eram tão loucos
Também pudera
Com toda aquela abstração
Aquela quimera
Aquela ilusão
Que vão com a onda do mar
Que se dilacera
Na areia da praia de Maricá
Na rua Santa Sofia
Ou na oitenta e nove, não lembro
Se você não quiser
Maísa Matarazzo te olhando
Fingindo que não te viu
Mas você, é claro, a ouviu
A voz doce, suave, cantando
Como é a brisa do mar
Um cara cego dando nó cego na corda
Coisas do Tom Zé
Sinto um aperto no pé
Ando devagarinho
Chego de mansinho no lar
Vou cortar minha unha
Na praia de Maricá
O salão é ao lado da praia
A dona é mansinha e bonita
Morena como a lua de Cintra
De que nem quero me alembrar...
Vou fisgar,
Meu peixe é você
De certo eu vim pra te ver
Bonita no azul da manhã
While my guitar gently weeps
George Harrison me falou
Que me falta alguma coisa
Que nunca vou saber o que é
Talvez um cafuné
Ou o bicho de pé que não tive
Uma sublime recordação
De Jacob do Bandolim
Ou do menino de Ouro Fino.
Rio, 30/10/2005