Profecias de um amante
Ai fofoca desgraçada, podem rir de mim
Em tempos áureos eu podia caçoar dos outros também
Hoje, não sou ninguém, riam, riam mesmo de mim
Posso ser um palhaço no picadeiro,
Sou das atrações a menos querida
No palco da vida, um dia fui pioneiro,
Atração aclamada de pé, passageira
De um ônibus lotado de pagantes
Nessa nave louca clamada de vida, querida,
Pulasses de paraquedas
E para minha surpresa, caísse ilesa
E eu, de dentro acenando, a euforia chegando, e o avião decolando de novo
Podem rir de mim, riam de chorar, já chorei muito por vocês,
Mortais que, por vez, não estavam a pecar
Lágrimas do rosto caem, o desabafo fica abafado,
Num peito em brasas, magoado, inundado
Num ritmo torto de um marcapasso barato
Fique a vontade, amor
A porta sempre estará aberta, as camas sempre cobertas
E na sofá sempre estará meu cobertor
Ainda lembro com afeto as brigas, dores tão ínfimas da ferida
Que hoje dilacera, o peito que reitera, o pedido de amor
Ai, meu Deus, pensam que louco, por estar simplesmente sereno
Hoje, sou escravo de meu mundo pequeno
Inventado por nós dois
Pra mim, a saída foi o começo de um mundo ao avesso
Deixado até por Deus, que com apreço,
Não encontrou o amor na terra seca
Saiu você, fiquei eu, nesse mundo de vícios e costumes
Antes habitado por querubins, encontro camas só para mim,
E até as reclamações de costume, me fazem choroso, penoso
Vago clemente numa rua sem pedintes
Juro, sou o único que vai pedir, implorar, humilhar
Aos teus pés, da cruz, da mangueira, a Jesus, volte pra mim
Penso nas encruzilhadas da vida,
Vejo arrependidas carpideiras sem emoção,
Vejo penhascos como solução,
Atiro-me e Deus coloca a mão, me salvando do fim
Meu Deus, porque fazes assim,
Porque não tirar logo de mim a falta que a saudade me faz
Com ela eu fui, já não sou mais,
Restos de amantes mortais
Separados pelos metafísicos e banais
Já que Deus não me deixou completar a profecia,
Sigo com ousadia meu plano de chegar ao fim
Acordo triste e penoso, durmo esperançoso
De que as pestanas não ousem abrir
Até que uma vez, do sono não ouve despertar,
Acho que Deus se pôs no meu lugar...
Saio da matéria pesada, como criatura amarga,
Que como fênix renasce em cinzas qualquer
Falei:”Deus, onde está minha mulher?”
Ele disse:”Filho, a felicidade no seu mundo, está onde quiser...”
Gabriel Amorim 10/08/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/