Desalforria
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Havia uma presença no final do salão,
nada menos que um fantasma escondido.
Contentava-se com meros ensaios narrados;
em sua mente, cessavam bravos grunhidos.
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Ressurgiu cinéreo um ser que morte provou.
Silencioso, o coração no peito esquecido
até por uma singela nota ser atingido;
neste mesmo acaso, de vida o transbordou.
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Pesadelos, proeminentes outrora de dor
em seu estômago jaziam borboletas
... que viraram vinagre,
e o fizeram querer vomitar
teu lúgubre horror.
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Fantasma do salão, doente assim
já quis tocar violinos e piano
e desgarrar-se de um músico platônico,
a quem lhe deve o riso.
Provar da própria música
a derradeira sinfonia
derreado, sedento por alforria.
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Fantasma infame, com a aura florida
a melancolia apodreceu malevolente;
no canto, imitando a singela melodia
cantando, gritando rangeres de dente.
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Mas pobre alma demente
não podes cantar hinos de amor.
Procurando borboletas que vivem
à sombra de seu senhor.
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Mas num profundo silêncio
a alegria emudeceu,
num eterno labirinto.
Prostrou-se ao chão o rosto ladino
ao som do caos adormeceu.
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As mãos do músico compadeceram
esculpidas junto a ele morto
e a felicidade inocente se exauriu.
Pobre alma, morreu de novo.