Desalforria

.

Havia uma presença no final do salão,

nada menos que um fantasma escondido.

Contentava-se com meros ensaios narrados;

em sua mente, cessavam bravos grunhidos.

.

Ressurgiu cinéreo um ser que morte provou.

Silencioso, o coração no peito esquecido

até por uma singela nota ser atingido;

neste mesmo acaso, de vida o transbordou.

.

Pesadelos, proeminentes outrora de dor

em seu estômago jaziam borboletas

... que viraram vinagre,

e o fizeram querer vomitar

teu lúgubre horror.

.

Fantasma do salão, doente assim

já quis tocar violinos e piano

e desgarrar-se de um músico platônico,

a quem lhe deve o riso.

Provar da própria música

a derradeira sinfonia

derreado, sedento por alforria.

.

Fantasma infame, com a aura florida

a melancolia apodreceu malevolente;

no canto, imitando a singela melodia

cantando, gritando rangeres de dente.

.

Mas pobre alma demente

não podes cantar hinos de amor.

Procurando borboletas que vivem

à sombra de seu senhor.

.

Mas num profundo silêncio

a alegria emudeceu,

num eterno labirinto.

Prostrou-se ao chão o rosto ladino

ao som do caos adormeceu.

.

As mãos do músico compadeceram

esculpidas junto a ele morto

e a felicidade inocente se exauriu.

Pobre alma, morreu de novo.

Exorcista
Enviado por Exorcista em 17/08/2013
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