FAVOS DE MEL

Esse eremita, na madrugada,  mangas arreganha,
e sozinho, com peso, vai descendo a montanha,
vai para uma vila, de seu ranchinho, distante...
Chego bem cedo, na estrada não á ninguém,
fico esperando na porta do grande armazém,
pela chegada do meu amigo, o bom comerciante.

Entrego lhe dez belos pés de fresquinha alface, como sempre, esperando que algo me falasse,
mas ele olhou me, e depois segurou minha mão.
Por fim disse me-Vem aqui raríssimas vezes,
meu bom amigo, não te vejo, já faz tantos meses...
Desvencilhei e entreguei verdes maços de agrião.

-Voce está com seus tecidos, todo rasgado,
vejo, bom amigo, está andando quase pelado,
entre no meu armazém, e vá pegar o que quiser.
-Venho lá de cima,sabe que sou um ermitão,
que gosto de viver sozinho, sempre na solidão,
que deixei de viver, quando perdí minha mulher...

-Trago produtos, para com voce aqui trocar,
nunca tenho dinheiro, não tenho como te pagar,
não ficarei magoado, se me disser um não...
-Trouxe para voce, favos de um delicioso mel,
do que preciso? Um lápis, uns pedaços de papel,
seria pedir demais, cordas para um violão?

-É só o que preciso, tenho lá na minha tapera,
bela horta, os pássaros, e flores da primavera,
e infelizmente, mora lá a saudade de Magalí...
Choro...Desculpe as  palavras, esse relato,
não te pedí nada, voltarei para o meu mato...
Te prometo, nunca mais voltarei aqui...

-Conversar com voce, me dá tanto gosto,
deixe me acariciar o seu barbudo rosto,
te adoro, amigo, gosto de sua companhia...
-Minha mulher, uma mala cheia te dará,
com muitas coisas, que na tapera usará,
coloquei canetas, cadernos, para sua poesia...

Montanha subindo,em meu motor, gasolina,
levo até querosene, para a minha lamparina,
que enfeitará, aquele ranchinho no sertão...
Levo também, mas veio numa hora tão certa,
é usada, mas que maravilhosa, linda coberta,
que aquecerá meu corpo, e minha solidão...

Nesse meu mundo, tão natural,
com esses dois amigos, que amei,
merecem o céu, o bondoso casal,
que num oásis da vida, encontrei...

Se a natureza, em mim se vingou,
engano, diamantes na vida achei...
Favos de mel, em sua porta encontrou...
Em muitas madrugadas, lá deixei...



 
GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 27/07/2013
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