MÃOS
Que eu possa colher
Nas minhas palmas
Os ventos loucos,
Os gritos roucos,
Tornando muito
O que for pouco,
Esmigalhando
As más intenções...
Que sejam grandes o bastante,
As minhas mãos...
Que eu consiga, em um só gesto
De varinha de condão
Dispersar tudo aquilo
Que for indigesto!...
Que eu purifique
Estas paredes,
Purifique as águas
Matando as sedes!
Que sejam ágeis o bastante,
As minhas mãos...
Que eu possa, agora,
Entre os meus dedos
Desfiar, bem devagar,
Os fios da memória,
Entrelaçando-os
Ao coração....
Que fique tudo
O que foi bom!
Que sejam habilidosas,
As minhas mãos...
Que eu consiga, numa oração
Juntar as palmas,
Abençoando, assim,
As almas tristes
De um mundo agreste...
Que eu esmigalhe
O mal que lastra...
-Que não se espalhe!
Que sejam fortes o bastante,
As minhas mãos...