Para não esquecer

Para não esquecer da vida:

memorar a alva a despertar o dia,

a etérea despedida das estrelas;

relembrar a chuva fria a umedecer o solo,

o vento moleque a compassar a dança das sombras;

evocar o rocio a umedecer a vidraça cristalina;

embeber a vista lúrida a descansar o espírito,

a fragrância suspensa a animar os sonhos.

Para não esquecer da alegria:

repassar as peças cômicas,

os espetáculos ridículos,

as atuações improvisadas,

alentar os diálogos e monólogos espontâneos;

recordar as faces impressas nos murais de vidro,

ementar as histórias inacabadas,

tecidas com colóquios empoeirados.

Para não esquecer da esperança:

abrir as gavetas atulhadas de fotografias,

plantar galáxias nos buracos negros,

colher estrelas das nebulosas arrefecidas,

sorrir para o ocaso das histórias,

aplaudir os versos engendrados

com palavras colhidas de confluências fortuitas,

reverenciar os caminhos desenhados pela graça.

Silas Lima

@silasjlima

www.silaslima.net