Desatando...
Desatam-se as pernas,
E o homem trabalha,
O atleta se esvaia,
De tanto correr,
A dama colorida,
Que se exalta na noite,
Baila com seu salto alto,
Até o corpo adormecer.
Desatam-se as mãos,
E o pintor não fraqueja,
O escritor só almeja,
Uma linha escrita com amor,
A moreninha faceira,
Toca um acorde para um amigo,
Puro sentimentalismo,
Coisa do seu interior.
Desatam-se os braços,
José se rende a Maria,
Tereza companheira de Sofia,
Não se cansa de abraçá-la,
No pulso firme,
O relógio marca as horas,
Uma bela jóia reluz seu brilho,
No saciar de um olhar.
Desatam-se os cabelos,
E o vento carrega os pensamentos,
Cachos soltos por momentos,
Difíceis de esquecer,
São lisos, encaracolados,
Curtos, compridos, devastados,
De cores múltiplas, sedutoras,
Contornando o semblante,
Embelezando o viver.
Desata-se o cordão umbilical,
O choro da vida ecoa,
E a mãe não enjoa,
De ouvir seu filho chorar,
É o primeiro passo,
Para vida que se inicia,
E que sem avalia,
Deus a cada um doou.
Desatam-se os pés,
A meninada corre na praia,
Samba a mulata na gandaia,
E o sapato aperta os dedos,
Pé de moleque,
Pé de arruda e de alecrim,
Cheirosos como jasmins,
Engatinhando em segredo.
Desatam-se os nós,
E o coração só festeja,
A vida de quem não peleja,
E busca a felicidade com afinco,
Na batida de corações insaciáveis,
A cadência maior,
Emana a razão dos amantes,
Pela existência humana.
CarlaBezerra