Noites Com Sol
A noite olha por sobre os ombros,
com sua terna doçura de noite calma;
e quase sopra uma brisa triste
(que justificaria um gesto de despedida).
A noite escorre (como uma lágrima)
sobre a pele lisa do silêncio;
como se acariciasse os meus olhos,
com essa gradual luminosidade
que começa a ser exalada do hálito do sol.
A noite sonhava (enquanto eu dormia);
e as estrelas orvalhadas
(que ainda brincam, felizes,
no céu de alvorada em meu peito)
são pétalas de sonhos que ela juntou
(enquanto eu sofria)
e que, agora, forma um tapete,
por onde entrará a minha manhã;
já impregnada com a fragrância do destino.
A noite se despede!
A noite lamenta a escuridão em que estive;
mas sorri ( com um sorriso materno)
e me beija o rosto, com lágrimas nos olhos.
A noite conhece o sol que já vem.
Sabe que ele veste cabelos e olhos claros;
e que deixa um rastro azul,
enquanto se aproxima (lentamente)
do horizonte castanho do meu olhar.
A noite fecundou (amorosamente)
o óvulo solitário da minha dor;
e, após uma longa e angustiante gestação noturna,
sinto as primeiras contrações
que anunciam (na minha alma)
um tranquilo, indolor e aguardado parto de luz.
A noite (agora eu sei)
foi a melhor amiga...a melhor mestre...
aquela que me ensinou caminhar,
mesmo quando não havia um caminho.
E agora que ele se abre
(como uma rosa amadurecida),
eu já sinto o perfume doce e delicado
de um anjo de cabelos ensolarados
que está chegando para caminhá-lo comigo.
O sol já vem!
11-01-2013