O VENTO OUTONAL
aquele ventinho que me arrepiava até a alma
ele que chegava manso me cansava tanto
eram dores atrozes que me roíam
que me comiam
eu dizia:
não temo o vento
não me importa a estação
queria enganar principalmente meu coração
aquele ventinho me prejudicava
me cansava
e ainda assim eu o procurava
saía pelas ruas buscando-o
nós nos fundíamos
nós nos comíamos
depois ele partia sabe Deus para onde
e eu ficava sozinha olhando a rua
conversava com a lua
confessava a dor
chorava de amor
outono passava
inverno chegava
em edredons eu me embrulhava
outro outono aguardava
e a vida seguia
eu nem sabia se ia
escrevia poesia
reclamava da vida vazia
e me extasiava quando primavera chegava
ela me renovava
um dia percebi que das estações independia
eu me descobria
me redescobria
reencontrava alegria