Temporada de chuvas
A avenida em que caminho
Não tem pavimentos e calçadas
Tem chão cru, esburacado,
com muitas folhas massacradas
Por fortes ventos gelados;
Deixo os braços cruzados!
Respingos de chuva
Embebem minha língua
Saboreio; penso em suco de uva
Mas o sacudir d’um galho
Molha minha luva
Fecho o casaco, me agasalho.
Pareço um espantalho
Pra pássaros azuis descolados do céu
Abro os braços que nem galho
E rodopio feio carrossel
Caem cartas de baralho
Tinjo lama, molho pincel
No dia cinzento pinto aquarela
Poças barrentas são lagos e piscinas
Entre nuvens penduro bola amarela
Da rua; alameda cheirando à tangerina
Fecho os olhos, penso primavera
E danço na chuva feito menina.