Ápice (de Assis Furtado)
Hoje tudo está em paz...
É paz.
O sol está brilhante e morno.
As plantas, sabiamente, encolhem suas folhas para reter água e,
permanecerem viçosas.
Os pássaros com o sol a pino deixam de cantar e,
piam dolente.
As nuvens formam nimbos querendo chover.
Enquanto o cheiro da carne assando na panela.
promete uma deliciosa refeição de sábado.
Roberta Sá, não mais na vitrola, canta mais dolente do que os pássaros:
"Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim qualquer coisa assim sobre você".
Tudo canta, tudo encanta...
Tudo encaixa e,
não enrijece.
É movimento...
Sereno.
Fugaz.
Vida.
Que vai (me) enganado que,
não se esvai.
Na perenidade do dia,
(após o almoço)
uma soneca malemolente no sofá.
Ruídos da vida a não deixar (me) eninar.
E, para completar esse total bem-estar,
o fim da tarde chega,
com chuva de verão,
de gotas quentes e gostosas,
para refrescar e encantar.
E, Roberta Sá já não canta mais,
porque a voz de Vinícius de Moraes,
chega aos meus ouvidos,
dizendo...
"Eu amei (amo), amei demais
O que eu sofri por causa do amor
Ninguém sofreu
Eu chorei, perdi a paz
Mas o que eu sei
É que ninguém nunca teve mais
Mais do que eu".
E é assim. Porque,
"O homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz "vou" não vai, porque quando foi já não quis
O homem que diz "sou" não é, porque quem é mesmo é "não sou"
O homem que diz "tô" não tá, porque ninguém tá quando quer"
(Vinícius de Moraes).