A arte de Ser Feliz, de Cecília Meirelles

Houve um tempo em que minha janela se abria

Sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,

E o jardim parecia morto.

Mas, todas as manhãs, vinha um pobre com um balde,

E, em silencio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caiam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Ás vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro as nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro.

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com os pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me aprecem personagens de Lope de Veiga.

As vezes, um galo canta.

As vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

Que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,

Outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,

Finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meirelles
Enviado por FSantana em 19/11/2012
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