SEM SER NOTADO
Não vou negar que reciclo.
Sou eu que fico a medrar
frente a um temporal...
Sou uma contínua paixão que se externa.
Que se afoba em qualquer mágoa,
seja ela, eterna ou efêmera.
Tenho eu o dever de afogá-la.
Seja num bar fuleiro de esquina,
numa ousada lágrima medíocre
ou no pinga pinga da minha torneira.
Não sou bobo,
já fui tolo... Hoje,
um completo ser insano.
Não sou tema a ser descrito.
Não sou disfarce do infindável
nem quero eternizar minha existência
com versados medíocres e incoerentes,
repleto das meias verdades famintas.
Conclamo com ternura para todos...
Que sou o manifesto medíocre do afeto.
No entanto, entendo que desatento,
fico sem atender quem me liga.
Continuo a lamber meu sorvete de bacuri,
a desfilar a beira rio,
para que todos invejem o meu passear
e quando estribado na nuvem próxima,
de certa hora marcada chegar...
Eu!
O dono, do tal sorriso beirado,
vou gargalhar de bom tom,
para quem quiser escutar e dizer
que sou feliz, mesmo sem ter sequer
um verbo e nenhum sujeito no bolso.