Encantos na mata

... Era madrugada

E andava sozinho,

Num ledo caminho,

Nu’a mata fechada...

E as minhas pegadas

Deixadas nas folhas,

Sobre aquelas bolhas

De orvalho, na relva...

Onde a grande selva

Guardava a enseada.

Deitei-me na mata,

P'ra olhar as estrelas,

E as borboletas,

Qual lua doirada —

Cruzando a chapada,

Num azulado céu...

Com cheiro de mel

Na flor do horizonte,

Lá atrás desses montes,

De infindas quebradas.

Fiquei de paquera,

Co’ a luz da esmeralda,

Sentindo minh’alma

Voar sobre a serra!

E nessa paquera,

Como um passarinho

Circula seu ninho

Na aurora a cantar...

Ficava a vagar... —

Nessa atmosfera.

... Inda madrugada,

U’a orquestra de sapos

Batiam seus ‘papos’,

Prosando u’a toada!...

Entrei nessa estrada,

Num só movimento...

E em meu pensamento,

Houvesse um castelo,

Co’ um canto tão belo...

— Qual essa morada.

Nessas passarelas,

As flores se abriam,

E assim se exibiam

Pr’u’abelha mais bela;

E as outras donzelas

Pousavam nu’a pinha,

Seguindo a rainha,

Num voo melindroso...

Qu’é mui sonoroso —

Valsando com ela.

Cruzaram u’a pinguela,

Bem perto de mim;

No meio do capim,

Fiquei na olhadela,

Vendo as molhadelas

Nu’a grã catarata...

Dei u’a de acrobata,

Cruzei o carvalho

No meio dos galhos,

E fui atrás delas!...

Olhei noutra fresta:

Uma linda joaninha,

Num mar d’estrelinhas,

Cruzando a floresta;

Pousara em minha testa,

Co’as asas vibrantes,

Bem mais qu’excitante!...

Flertou toda a fauna,

Soprando em minh’alma,

Um encanto de festa.

Estava tão fria

A brisa na mata,

Onde a passarada

Cobria sua cria —

Enquanto dormia.

Ao longo do rio,

Senti um arrepio

Ao ver a grandeza —

Um mar de beleza,

Nu’a infinda harmonia.

Oh!... doce alegria

Sentia em meu peito,

Bem mais que perfeito,

(U’a enorme euforia!...)

Quem mais ousaria

‘Screver esses cantos,

Ardentes d’encantos,

Tão cheios d’amores —

Co’as mais lindas flores,

— Nu’a só cantoria?

... Na curva do rio,

Vi u’a passarada

Voar sobre a mata,

Pruns galhos macios...

Que são vitalícios,

No campo florido,

Co’ o sol colorido,

D’encanto sem-fim...

Luzindo o jardim,

Repleto de lírios.

Na margem do rio,

Um só passarinho

Fazia o seu ninho,

Num canto sadio.

Ouviu um desafio,

Na mata orvalhada,

P’ra aquelas ninhadas,

Nos galhos, sem-fim...

— Onde os Querubins

Pousavam em delírios.

No alto do rio,

Uma linda cigarra,

Sobre u’a alcaparra,

Curtia o plantio!

Seu canto se ouviu

Em tom de seresta,

Num vão da floresta,

Sem um regimento,

Num só movimento,

Sua imagem d’esguio!

Cantava o tiziu,

No azul da floresta,

Num clima de festa —

Topou o desafio!

Seu canto é sutil,

Na relva suspensa,

Na mata qu’é imensa,

Cheia de mistério...

Onde há refrigério —

Num simples psiu.

Surgiu um canarinho

Fazendo um improviso,

Num coro preciso,

C’outros passarinhos:

Pardais, azulinhos,

Tuins, tangarás,

Chupins, sabiás!... —

Cantavam encantados,

Tão apaixonados...

Co’ amor e carinho.

Num ar bem macio,

O vento na mata

Soprava a cascata,

Num alegre assobio...

E um canto tardio

D’um belo nhambu

Chamou o tuiuiú,

P’ra ouvir seu cantar,

Na aurora a bailar,

Num eterno elogio.

... E o grã jaburu,

Que ‘stava assisado,

Voava apressado,

Co’ amigo urubu...

Quando o uirapuru

Soltou, lá da serra,

Seu canto de “guerra”!...

... E toda a floresta

Fez u’a grande festa,

— Co’ o seu Cururu!

Paulo Costa

Pacco
Enviado por Pacco em 18/06/2012
Código do texto: T3730393
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.