FERNANDA
Durante séculos tantas mulheres suspiraram com o anseio de serem tema de enaltecedora obra poética
Mas o que leva um poeta a dedicar parte de seus mais inspirados versos a uma mulher?
Que sem mover sua intenção desperta-se-lhe tal propósito de desprendida concessão?
O que tocou Dante, Petrarca, Camões ao enamorarem-se por suas musas?
O canal da sensibilidade tem ares de instigantes mistérios, sem respostas imediatas...
Poemas que surgem assim inspirados são eternos, revestidos de transcendência
São felicidades perenes, acima de arrependimentos ou desventuras
Mais vale um digno minuto de versos
Um dia de iluminada inspiração
Um mês de extasiada contemplação
Entre um poeta e sua musa inspiradora
Do que dez volúveis declarações de amor
Dez dias e dez noites de efêmero prazer
Dez anos de fracassado e sofrido convívio
Entre casais que se formam e se deformam.
Mas se um dia o Amor Poético se concretizar além da letra
Ganhando, bem mais que a corporal, a dimensão atemporal
Se parceiros estiverem à altura de dignamente o vivenciar
Então uma esplendorosa porção de paraíso é desfrutada
E somente assim os sentimentos farão jus a tal nome.
Poesia enseja uma vivência de plenitudes em um universo próprio
Que revela subjetivamente aspirações nobres e profundas
É um símbolo de redenção a quem tem a alma no corpo da escrita
Com refinado bom gosto, fruto de uma apreciação pura, cristalina
Uma bênção no exercício de uma peculiar e genuína contemplação
Realística mesclando romantismo, artística imbuída do sentimental
Em cada verso um ponto luminoso, que em conjunto espelham uma constelação
Pois tens brilho próprio, projetas uma aurora poderosa no teu feminino céu
Vejo magníficos cenários na tua face tão natural, serena, linda, meiga
O mais resplandecente rosto que vislumbrei e hoje então interiorizei
Uma pintura que nem necessita de retoques por pinceladas ou adornos
És a espontaneidade da Beleza, sem artifícios vãos ou frivolidades
Representas uma individual conciliação, uma agregação e uma satisfação
Pela união promissora do que é bom e belo, com a justa medida
Inspiras-me também porque és simples, mesmo tão grandiosamente bela nas formas
Enalteço cada contorno teu, dom concedido pela natureza mas dignificado pela alma
Amplias o meu olhar, guias involuntariamente minha melhor percepção masculina
Capto uma mulher morena, discreta e elegante, alta e arrebatadoramente formosa
Mas instintos baixos do homem não tornam-no frágil refém, se diante de uma distinta dama
Moderam-se os desejos, adequam-se os procedimentos, virtudes emanam
Sinto-me poeta isento de distorções da visão e de friezas da razão
Fico curado das náuseas sentidas pela mágoa de uma dúbia companhia feminina
Afasto-me de equívocos e desilusões amorosas de um solitário coração
Supero a lamentação por ocasiões de tê-lo aberto, quando o deveria fechá-lo
É possível nascerem no poeta versos sobre tantos temas, a escrita desdobra vastidão
Mas sobre um tipo de mulher com nuances de personificação pela sublime linguagem
Nesse caso, a elevada arte expressa um imensurável carisma, aquilo que nos distingue.
CARLOS AUGUSTO DE MATOS BERNARDO