Poetisa
A poetisa sentou na escrivaninha e estava aquecido o ambiente,
Abriu seu caderno levemente com suas mãozinhas dóceis e macias
Seus dedos pequenos foram abrindo paginas e paginas do caderno,
Era tão velho pelo tempo, mas tão querido para ela.
Ela jogou suas costas na cadeira e se espreguiçou gostosamente,
Disse um melodioso “Ah” invocando um ar saudoso
Para invadir seu ventre e ficou leve e calma.
Então, chegou à parte branca da folha do seu caderno
E com sua mãozinha na cabeça pensou,
Pensou um pouquinho e dali deixou-se incorporar.
As ágeis mãos percorriam as linhas imaginarias de flores e verdes,
Animais, carrosséis e pirilampos navegavam nas dimensões,
Ouviu o batuque e cantiga de bater chão de terra,
Percebeu crianças brincando e girassóis abrindo os braços,
E viu o galanteio do poeta e a tristeza da lua,
E tudo girava e dançava e batucavam no ritmo do poema,
E tudo fluía e navegava num sedutor oceano de palavras,
Imaginações, tesouros e diamantes lapidados,
A poetisa na escrivaninha, aquecido ambiente, bailava,
Lá fora bem-te-vi sorri, gato no telhado samba,
E ela bailava com suas mãozinhas no caderno,
Possuída pelo desfile de imagens e cores.
E perto do seu ouvido uma pequena musa ditava cada passo,
Cada pintura da peça que se mistificava, um ditar adocicado.
E lá fora um cravo chorava pelo amor da rosa.