O Vento e as folhas
Mais um dia nublado e aquela velha folha seca sumiu.
Vivemos tão apressados que nem ao menos nos despedimos das folhas que tanto nos fizeram bem. Assim como elas são os nossos dias; nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Certamente um dia cairemos como elas caem no chão e seremos levados pelo vento.
O que dizer então do vento que sopra todos os dias para onde quer? Não sabemos para onde ele vai e muito menos de onde ele vem, mas ele existe independente de qualquer notoriedade ou sugestão ele faz diariamente o seu percurso. E sempre levando algumas folhas com ele.
Hoje eu liguei a TV e vi mais uma vez notícias de corrupção; violência; estupros; pedofilias; desigualdade social entre tantas outras noticias. Como dizia o Cazuza em sua música: “o tempo não para”, apesar da obviedade da frase, às vezes nos esquecemos dessa simples verdade.
Diariamente nascem e morrem pessoas; diariamente pessoas são admitidas e outras demitidas; diariamente pessoas desistem da faculdade enquanto que outras comemoram a aprovação no vestibular; diariamente pessoas aceitam se casar com a pessoa amada, no mesmo instante, em algum lugar, pessoas saem de casa após assinar o pedido de divórcio do seu agora “ex”; diariamente crianças morrem desnutridas por não ter nada para “enganar” o estômago, enquanto isso caminhões de lixo carregam em seu depósito móvel milhares de restos de comida que fora desperdiçado por alguém; diariamente mães choram a perda de um filho, porém em diversos hospitais espalhados pelo mundo, várias mães estão felizes ao ver pela primeira vez o seu filho; diariamente o álcool e as drogas têm amordaçado seus dependentes que se diziam conscientes e equilibrados; porém existem aqueles que reconheceram a sua fraqueza e buscaram ajuda e estão “limpos”; diariamente chegam à delegacia novos presidiários, enquanto isso do outro da rua mães e esposas esperançosas aguardam o mais novo ex-detento atravessar a rua; diariamente coisas absurdas e estupendas acontecem, porém as folhas continuam a cair e o vento continua a levá-las.
Os dias são inflexíveis, não dependem das circunstâncias para seguir o seu fluxo. 24 horas jamais serão 48, noites jamais serão dias, e dias jamais serão noites. Não há regras, não há nenhuma conspiração cósmica que gire em nosso favor, existe apenas o sol que cumpre rigorosamente a sua rotatória sobre a terra, sem diminuir a sua velocidade e sem aumentá-la, simplesmente contínuo.
Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro. Janeiro, fevereiro... Quantas vezes isso já se repetiu e eu e você disse a mesma coisa: No ano que vem eu faço; no ano que vem eu mudo; no ano que vem eu consigo; espero que no ano que vem alguma coisa mude? Pode ser que o ano que vem nunca chegue, pode ser que o ano que vem nunca comece, pode ser que ano que vem o decepcione novamente, pode ser... No entanto, as folhas não param de cair e o vento não para de soprá-las.
Não existe livro que ensine como enfrentar um problema, não existe manual básico da vida que nos auxilie contra as angústias, decepções e perdas, não existe água mágica que transforme tudo do dia para a noite; existe processo. Mudança de atitude. Mudança de pensamento. Mudança de caráter. Como fazer isso? Processo.
Viver é uma dádiva. Uma oportunidade única. Tudo o que fazemos hoje terá uma conseqüência amanhã. Penso sobre tudo isso e reflito: vale a pena ganhar o mundo inteiro e perder a alma?
Viver é ter responsabilidade.
O vento e as folhas percorrem o seu caminho...