As talhas e as indicações do tempo,
sanidade perfeita mostra o mestre entre os filósofos,
o tempo, sempre sem quebra, indica-se por partes,
o que sempre indica o poeta é a agradável companhia
dos cantores e suas palavras, em multidão:
as palavras dos cantores são as horas ou minutos da luz
ou sombra, mas as palavras do fazedor de poemas
são luz e sombra gerais,
o fazedor de poemas estabelece justiça, verdade,
imortalidade, sua perspicácia e força envolvem as coisas
e a espécie humana,
glória e cópia ele é assim das coisas e da espécie humana.
Os cantores não criam, somente o Poeta cria;
cantores são bem-vindos, compreendidos, muitas vezes
aparecem bastantes, mas raro tem sido o dia,
assim como o lugar, de nascimento
do fazedor de poemas -
o Respondedor.
(Nem todo século ou lustro de séculos tem contado
um dia
desses, com todos os seus nomes.)
Cantores de horas seguidas de séculos
podem ter nomes
bem ostensivos,
porém o nome de cada um deles

será o de um dos cantores:
o nome de cada um deles será cantor de olho,
cantor de ouvido, cantor de cabeça, cantor de doçura,
cantor de noite, cantor de salão, cantor de amor,
cantor de sorte, ou mais alguma coisa.
 
 
Todo este tempo e por todos os tempos esperam
as palavras
dos verdadeiros poemas:
as palavras dos verdadeiros poemas
não apenas agradam,

os verdadeiros poetas não são acompanhantes da beleza e sim augustos mestres de beleza.
A grandeza dos filhos está no que transpira da grandeza
das mães e pais,
as palavras dos verdadeiros poemas são o buquê
e o aplauso
final da ciência.
Intuição divina, vista larga, a razão como lei, saúde
E primitivismo do corpo, retraimento,
contentamento, curtimento ao sol, doçura de ar –
eis algumas palavras de poemas.
 
 
O marinheiro e o viajante fundamentam
o fazedor de poemas
- o Respondedor;
o construtor, o geômetra, o químico, o anatomista,
o
frenologista, o artista, todos esses fundamentam
o fazedor de poemas - o Respondedor.
As palavras dos verdadeiros poemas dão-vos mais
do que poemas:
dão-vos com que compor os vossos próprios poemas,
religiões, política, guerra, paz, contos, ensaios, vida cotidiana, e tudo mais,
dão balanço de castas, cores, raças, credos e sexos;
não procuram beleza, são procurados
- sempre em contacto com eles ou bem próxima deles
Segue a beleza, desejosa, ansiosa, enamorada.
Preparam para a morte, conquanto não sejam
o acabamento,
mas antes o começo;
não conduzem ninguém ao termo, dele ou dela,
nem a ficarem contentes e plenos;
a quem levam, levam espaço em fora para observarem
o nascer dos astros, para aprenderem
algum dos significados,

a se lançarem com fé absoluta, a atravessarem depressa
os intermináveis círculos e nunca se acomodarem
de novo.

 
                                                        
(tradução de Geir Campos)


 
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        Whitman,  Walt.  Folhas de Relva.  Seleção 
          e tradução de Geir Campos.  Ilustrações de 
          Darcy Penteado.  Ed. Civilização Brasileira. 
          Rio de Janeiro, 1964.   



Walt Whitman (EUA)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 28/10/2011
Reeditado em 28/10/2011
Código do texto: T3302915