UM DIA FUI CRIANÇA

Somente brincar, correr solto, liberdade.

Era assim minha vida que recordo tão bem,

Moleque arteiro, ligeiro, sapeca, um chispa,

Rápido como o relâmpago, leve como plumas,

Soltas no vento para lá adiante cair sorrindo,

Mesmo que houvessem feridas para cicatrizar.

Não temia os desafios que me apresentavam,

Como subir rápido numa árvore à beira do rio,

E depois jogando meu corpo sumia na água,

Para surgir lá adiante sem temer os perigos,

Galhos soltos que poderiam me aprisionar,

Ou cobras venenosas sempre querendo ferir.

Nas cachoeiras escorregava minha intrepidez,

Batendo nas pedras o corpo um tanto franzino,

Mas diante de tantas adrenalinas gostosas,

Meu coração inquieto queria também brincar,

E as gargalhadas acompanhavam meus delírios,

Que meu espírito criança sabia compreender.

Amava aquela natureza tão pródiga e bonita,

Já conhecendo seus meandros e seus segredos,

Como a brisa que trazia os perfumes das flores,

Conhecendo como ninguém a mata toda florida,

Que na primavera parecia mostrar-se faceira,

Culminando com um entardecer que me extasiava.

Mesmo sendo criança tinha afinidades com o sol,

Que ao terminar sua jornada pincelava todas as nuvens,

Colorindo-as para que eu pudesse com elas brincar,

E via como formavam carneirinhos e até ursinhos,

Que na minha imaginação sofriam transformações,

Fantasias de menino vendo também criancinhas.

Esperava a tarde ir aos poucos desaparecendo,

Pois um manto escuro era o prenúncio da noite,

Que cobria no imenso espaço todos os horizontes,

E as estrelas pequeninas comigo queriam brincar,

Piscando, piscando, algumas se soltando sapecas,

Até que a lua soberana mostrava faceira sua graça.

23-09-2011