com Duke e Nei numa tarde de domingo
escutando Duke Ellington
the Mexican Suíte
e lendo Nei Lopes
Guimbaustrilho
os meus amados trilhos
da Central do Brasil
por onde não passam mais trens
como ontem, eu lembro de quem
como eu que quero também
não jogar papel pela varanda
lá embaixo no térreo
não jogar restos de galinha
não falar mal dos outros
não ser orgulhoso
não ter vaidade
não ser ambicioso demais
não falar de ninguém por trás
não olhar ninguém de cima
não jogar merda no ventilador
não ser transigente com a hipocrisia
mas não me achar melhor que ninguém
ouvir mais e falar menos
saber agradecer, perdoar e sorrir
saber chorar e retroagir
saber mandar sem querer punir
não desejar a mulher do próximo
quando ele estiver muito próximo
ser correto sem precisar ser asceta
fazer o que for possível
da forma mais do que certa
ser enfim um poeta
e fazer jus ao nome
não apenas no conteúdo
da minha vã poesia
mas também naquilo que em tudo
pensaram de mim um dia
quando desconfiaram
que eu fazia poesia
Rio, 24/09/2006