A cruz portuguesa em Sintra
Poema Viagem lírica
De Edson Gonçalves Ferreira
Para todos os poetas e poetisas do meu coração
O poeta Edson Gonçalves Ferreira ao lado da estátua de Fernando
Pessoa em Lisboa
I
Confesso:
Viajar é arriscar voo
Navegar é mais que preciso...
Sem saber como será o pouso
Assim, parti para Portugal
Onde, no colo ancestral de gente amiga, fui recebido
Não buscava turismo, só o aconchego de poetas e poetisas amigos
E o útero telúrico de onde vim
E foi isso que encontrei lá.
O poeta Edson Gonçalves Ferreira e vista de Lisboa
II
Chegar a Lisboa é aceitar o fado
“Ai, Mouraria, da velha rua da Palma
Onde, um dia, deixei presa a minh´alma...”
Ela, Amália, sabia disso
Foi importante e nunca feliz
Quem sonha demais nunca consegue
A divindade onírica perpetuar
A realidade nos sufoca
Trivial e passageira
Encantemos sonhos.
O poeta Edson Gonçalves Ferreira nos moinhos de Sintra
III
Conhecer Sintra é conquistar realeza
O luxo dos castelos
A beleza das azenhas
Os falares das gentes
O azul profundo do mar
Tudo isso encantado por pessoas
A volta de quem fiquei a rodopiar
Com versos soltos na cabeça
Ilusões da vida a doirar.
O poeta Edson Gonçalves Ferreira no Porto, Portugal
IV
O Porto é mais que cais de pedra
A minha segurança na amizade inconteste
Assentada na luso-brasilidade
A terra do meu avô paterno
Lembranças que só meu sangue revela
As dores que tenho, hoje, são ancestrais
De três jovens que partiram para nunca mais voltar
Quase dois séculos depois, um poeta pardal chegou
Buscando o aconchego da terra...
O poeta Edson Gonçalves Ferreira na Serra da Estrela
V
Portugal Profundo: Celorico da Beira, Viseu, São Pedro do Sul, Manhouce
Os caminhos de pedra recortados nas montanhas
Feito os de Minas Gerais relembram
Os meninos que chegaram aqui onde canta o sabiá
Para que eu nascesse e tivesse como perpetuar os sonhos deles
A cantadeira tem razão
O carrego da vida continua
Embalado pela voz dela e pela minha voz
Sentimentos cruzados no espaço do amor
Há séculos plantados nos nossos corações.
O poeta Edson Gonçalves Ferreira em Portugal
VI
A hora da chegada é bênção
Reconhecer a família que deixamos
A lágrima de alegria descendo feito diamante na face
O sorriso no olhar dos irmãos, irmãs e sobrinhas
A risada feliz dos amigos
Eu conheci a terra de onde eles, meus ancestrais vieram,
Mas sou flor das Mantiqueiras
E não me levem para o mar
Eu nasci para cantar
Na terra onde não canta um sabiá
As aves que, aqui, gorjeiam
-- Ah, desculpe-me, poeta – elas gorjeiam
Gorjeiam mais que as de lá.
Um pôr-de-sol é sempre um pôr-de-sol, meu coração!
Divinópolis, 17.08.2011