REDE DE PALAVRAS

Vai pescador

Tece primeiramente a rede.

Amarra e prende a angústia do dia-a-dia

Olha o mar

Seu único e sereno amigo

E, confessa essa cumplicidade...

Que só a sensibilidade conhece.

Tece sempre os nós da solidão,

Contudo deixe as esperanças brincarem,

Como o poeta deixa que deslizem as palavras.

Agora sim, joga a rede

No impulso perfeito de seus dedos

E acredite

Nos versos que a natureza conduz.

Sinta o bailar dos peixes...

E acomoda as palavras

Numa estrofe perfeita.

Vê a harmonia da pesca

E traduz a mensagem

Que a poesia possui.

A alma só é saciada pelo significado.

Então, busca no fundo do mar a pérola

Que reluz o pensamento perene.

E, tece mil vezes se necessário...

O mar é vasto e complexo em figuras de estilo

Que envaidecem o escritor. Mostra o feito e,

Preenche o prato do alimento único

Que é a poesia.

Vai pescador

Alimenta o povo que chora

Traduz o milagre final do dia...

Todos têm fome !

Os espíritos esperam

Teu sorriso

E balaios cheios...

Cubra com tinta o abstrato,

Concretizando-o em poemas.

Vai pescador !

Pois o sol o festeja.

Canta como os pássaros...

Na alegria da vida.

Preenche, libertando

A humanidade deserta.

Com tuas mãos abençoadas

E faz do milagre do saber

A única comunhão

Entre Deus e o Homem :

A palavra,

Em todo seu

RECONHECIMENTO !

ISABEL BENEDITO DOS SANTOS