Felicidade em três tempos

A cor da felicidade

Pode ser clara ou escura

Quando é leve ela é ingênua

Na fase mais imatura

O seu cheiro é de pré-festa

Ao despertar de manhã

E pela porta entreaberta

Entra um frescor de hortelã

Nem se advinha o seu gosto

Será surpresa aguardada

Cada hora traz no rosto

A ansiedade estampada

Os momentos esperados

Chegam sem nem se notar

De tanto que são usados

Sem dar tempo pra pensar

Mais tarde a felicidade

Vai ficando maliciosa

Exigindo lealdade

Atitudes audaciosas

Nessa fase o pensamento

Fixa mais numa pessoa

Do que em meros eventos

Nisso é claro que destoa

E embora também nos leve

Feliz para algum lugar

Principalmente se atreve

A querer se apaixonar

E esta felicidade

Tal como a de ainda criança

Mexe como uma tempestade

Desesperada esperança

Felicidade escura

Cores sóbrias em veludo

Densa e suave apura

Como um vinho, antes de tudo

Quase assusta com seu jeito

Que dá medo de perder

Mais de causa que de efeito

Mais beleza que prazer

A felicidade alcança

Nesse patamar o ápice

Não é fácil essa instância

Se não houver quem a abrace

Porém noutras atmosferas

Que atua a felicidade

Dentro ou fora da quimera

Das paixões e das vaidades

Prevalece a experiência

Na madureza sentida

Passos que são conseqüência

De uma vida já vivida

Por isso sabores e cores

Ficam assim tão calmamente

Calculando suas dores

A cada prazer presente

A felicidade longa

Pode ir tomando a gente

Indo apanhar o que sonda

Ter nos deixado contentes

Vai trazendo os detalhes

Que no afã desprezamos

Que jogamos pelos ares

Ou distraídos pisamos

Como se nos ensinasse

Garimpar rio explorado

Mostrando-nos outra face

Que antes deixamos de lado

A decisão sempre é nossa

Como nunca deixou de ser

Pra que a mente agora possa

O coração atender