MINHA LÂNGUIDA VIDA
M I N H A L Â N G U I D A V I D A
Sou paciente, compartilho migalhas de luz
Pedaços de calor do sol aquecem-me
A chuva lava meus rastros pelo caminho
O cheiro de terra molhada me acalma
A inércia da lua cheia apaga minha tristeza
À noite a flor perfuma minha vida
Vida frágil, sinuosa... angélica...
A sombra da árvore refresca meu corpo
Esvai-se a angústia, clareia e alivia
Lânguida vida, inebriada... amada...
Vou pelo menor esforço
Sem cansaço
Sem suor
De camisa sem mangas
Deixo a vida acontecer
Vida singela, lenta... bela...
Sopra o ar a poeira que me sufocava
Rasgo a venda dos olhos
Vida calma, doce... intensa...
A madrugada me anestesia
O coaxar no brejo me nina
Bendita vida, leve... desejada...
De sapato largo vou à fonte
Vejo a ciranda da vida de camarote
Vida mole, verde... nabesca...
Hoje sou vadio
Não vazio
Vida! Só vida! Vivida...
(maio/1992)