TENHO MEDO
(Ah, o medo vai ter tudo, tudo
Penso no que o medo vai ter
E tenho medo,
Que é justamente
O que o medo quer)
In “Poema pouco original do medo” de Alexandre O’Neil
Tenho medo!
Chamem-me o que quiserem,
Cobarde até!...
Que hei-de fazer?!...
Sou o que sou,
Não há nada a fazer.
Sou medroso!
E daí?!...
Quem não tem medo?...
Não sou diferente de ninguém!...
Aliás,
“Quem tem cu, tem medo”
E nem sequer faço disso segredo,
Nem tal seria capaz…
O nosso Mundo não está
P’ra brincadeiras;
É tudo já
Uma questão de sorte,
Em que viver, está pela hora da morte…
E verdade, verdadinha,
É que o medo
Está tomando posse
Da nossa pobre vidinha.
Apresentem-me alguém,
De tal forma valente
Que nunca tenha sentido
Medo também,
Para eu gritar-lhe - corajosa mente -,
Ao ouvido:
-“ Cobarde e mentiroso de_mente!…
A tua mente,
Mente!
Descarada_Mente!...”