A cegueira se foi

Fecho meus olhos e não vejo nada

percebo que isto não me faz cego

ando pela vida, ainda menino, não sei sobreviver

isto não me faz um cego

em idade tenra não tenho mais os braços maternos

percebi que me tornei órfão

passei por penúrias, sem roupas e muito frio

fome e próximo da miséria

isto não me trouxe cegueira

adquiri calos, cansaços e dores

não me deram chances e não cuidaram de mim

gritaram e me expulsaram

me roubaram e caluniaram

isto não me fez um cego

roubei, menti e trai

prostitui, fumei e bebi

gastei, perdi e não aprendi

chorei e fingi que sorri

prostrei e me escondi

levantei e voltei a repeti

pequei, gostei e morri

isto me fez um cego

quando achei que via

foi só enganação

miragens de belezas inexistentes

peles, contornos e nudez

promessas e cantos

abraços sem braços

dores e prantos

não ando, sou somente cegueira

atravesso o vale escuro

pouso-me à margem da vida

não sou convidado

escuto uma voz

é como se pudesse ver

meu coração acelera

grito uma vez, grito novamente

me fiz escutar

quero sair desta noite

suspiro, converso com Ele

sou envolvido pela Luz

não sou mais oculto

Ele me fez enxergar

sou Bartimeu

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