A MOCINHA QUE DANÇA
a mocinha dança sozinha
cambaia
morde a borda do copo
a cerveja cai, ela escorrega
adunca
gaia
desvaria
enviesada
com o balé do bolschoi
o tornozelo torce
escorrega-lhe a meia-calça
já rasgada
a cabeça, crispada, pulsa
expulsa uma chaga
apaga
a mocinha dança
xumbregada
currupia à roda
das mesas pregadas
ela é meio obesa
rebitesa
a mocinha...
ela chuta biruta os pés das cadeiras
bruta
ela desbarranca as ancas gordas
ela é conspícua
ela é bêbada
ela é fumada
distensa
a mocinha não valsa presa
nem solta
nem nada
orbita
ilesa
a mocinha quer viver...
quer que o mundo a acolha
mesmo
doidivanas,
rodopiando
triturando o chão batido
de areia
a mocinha que dança
sozinha
é um peão sem travas
ao som de um acid forró
de mestre Luis Gonzaga