Criança-flor
Vejo a esperança preparando uma barriga
de amor dentro de cada ilusão despedida;
e se no rosto da mulher uma lágrima rolar,
será cântico de alegria e coragem de amar!
Sinto muitas crianças o mundo abraçando
e esticando bem longe as beiradas do céu,
para romperem mero silêncio abandonado
num brado de risos moles ao gosto de mel!
Flores dão-se as mãos em alva renda suave
abraçando as doces crianças ocultas em nós,
serelepes, que espiam no firmamento a ave
destemida da vida com fé em seu vôo veloz!
Trancas cruéis cedem aos risos de candura,
fluindo voluntariamente em todos os cantos
em todo o tempo e pulsar que haja ternura,
a renascer a inocência que lava pensamentos!
Ao chacoalho cadenciado das pétalas suaves,
mais rebentos brotarão nos velhos curvados,
beijando-lhe as faces de velhos sulcos breves
a fundir sensatez ao sentimento combinados!
Não vejamos crianças como alvo de vitrines,
são as flores da graça que cobram seu espaço
para reflorestarem as gerações mais perenes
e pela misericórdia invocam o nosso abraço!
E cada criança de ti, em devaneio cantarolado
importando-se com tudo que Deus se importa
abra as suas asas amorosas ao céu, espargindo
a essência de mirras puras que a todos exulta!
Chama-se Criança o novo amanhã ensaiado agora,
a passos trôpegos oscilantes de quem s'ignora
um iluminado vitorioso feito de afetos suaves,
cuja alma e coração querem ficar mais graves!
Santos-SP-04/10/2006