VIDA PRÓPRIA

Aquela viela tinha vida própria...

O sol pisava, macio, as lisas pedras dela

E entintava de cor amarela as camélias nas janelas

Mais do que corava as bromélias das matas...

As meninas da viela, como eram belas, amadas

E os rapazes por demais fortes, galantes, entusiastas...

E que viela estreita de lua mais cintilante!

Prateava o cimo das frondosas árvores dos quintais

Pintava de sonhos até a cabeça dos pardais nos tetos pardos...

Lá, todos os quartos eram mobiliados de nus e bocas úmidas

E as crianças tenras sempre dormiam quietas na sala

Presenteando os casados de noitadas sensuais e túrgidas

Aquela viela mágica era idolatrada pela vizinhança enciumada...

Viver na viela nunca foi, nem será coisa pouca...