Segredo da Vida
Nas ruas da cidade,
Na silhueta da velha louca,
entre os bêbados cambaleantes
Ouvindo tenores por aí
Ao som dos cabarés vazios
Em reluzentes néons.
A procura de bandidos do crime perfeito,
No velório das multidões em preto,
Na cachaça do homem infeliz.
Contemplando a pintura das fumaças,
Dançando na orquestra das buzinas,
na quentura do ar carregado,
no cheiro da fritura e do cozido.
Povoando a miséria,
No samba das torcidas,
No sangue da foice,
No capital da tristeza.
O carnaval de amores,
Homenagem ao salvador
Que na estória do pescador
Era rei das flores,
Desabrochava ao pôr do sol,
E a noite bailava em dores.
É nas plantações de vinho
É na cana de espinhos,
Perco a cabeça, calos na mão,
Suor e prece, tudo em vão.
O dinheiro do arroz é o sabor do feijão.
Cada migalha, os centavos do pão.
O preço da vida, a paz no caixão.
O litoral das cores,
Brisa e vento nos cocos.
O achado de Cabral é no mar,
A descoberta da vida no segredo,
De sorrir e sonhar.