OS DIAS
Amanheceu o dia passado.
- Era daqueles enjoados -
Do ar lançavam-se pedras
De ventos deveras pesados
As ervas crescidas de véspera
Daninhas em temperamento
Trepavam por sobre minhas pernas
E meu pobre tronco pendia
Todinho tomado de mim - pudera!
O sol rutilava chorando
Chicoteava meu lombo suado
A melancolia me atravessava
Namorava de perto a morte
Por meus feridos olhos aguados
A minha única sorte
É que os dias nos dias se acabam
Para renascerem logo em seguida
Emancipados, de braços abertos
Declamando, pulsando vitrolas
Aos meus surpresos cabelos eriçados
E assim mesmo foi que se sucedeu...
Ficou lá no ontem, o desolador dia passado
Que, iludido, achara inteiro meu
Coitado... Era um dia inteiro para todos!
E todos somos os donos do hoje
- Que, por ora, fantasio ser só meu -
Tomado pela absurda alegria incontida
Que (sabe-se lá o porque)
Uma nova alvorada me trouxe
Pois é de dias assim que se vive a vida
Uns tão grandemente amargos, brutos,
Outros tão repletos de afagos, doces...
Grato Terra, pela excêntrica acolhida!