O Começo da Virada
Tenho notado em meus passos, uma certa firmeza,
Uma relativa destreza,
Uma espécie de inédita determinação,
Que está me fazendo bem ao coração.
Todas as decisões já foram tomadas.
Estou iniciando, discretamente,
Conscientemente,
O processo de virada.
Pode muito bem ser a última loucura,
Mas é um grande passo em direção à altura.
Vou em direção ao mar aberto.
Não tenho atração pelo concreto.
Acho que nem sei mais dirigir nas grandes cidades.
Alterei radicalmente a personalidade.
Era um bom burguês,
De shopping era freguês...
Hoje preciso de mato ao meu redor,
Uma praia de águas claras por perto,
Uma linda montanha pra me proteger, por certo,
E, principalmente muita paz, que é o bem maior.
Não me seduzem as espetaculares construções,
Prefiro acompanhar a mudança das estações.
Mergulhar em cada alvorecer que eu puder,
Cada entardecer que eu quiser...
Ouvir o mar bater,
Enquanto se inicia o anoitecer,
Contemplar as estrelas brilhantes,
São necessidades absolutamente relevantes.
Da metrópole, perdi a ambição,
Aquele especial jeito,
De alimentá-la dentro do peito.
Encaro-a hoje, como absoluta ilusão,
Com sua velocidade maluca,
E sua violência absurda.
Seria uma vítima em potencial,
Pois abdiquei de todas as defesas,
De todas as capitalistas certezas.
Fui atrás do que me parece essencial
E encontrei junto à natureza,
A consagração do que classifico como pureza.
Sem a qual não sei mais viver.
Sem a qual me é impossível crescer.
É o mar, a motivação para cantar...
Está na montanha,
A força tamanha,
Que me impele a decolar
E ir ter com o dia,
Sob as asas da poesia!