PARTO POÉTICO
navalha cortante na pele macia
resvala e fere, macula e geme,
são espinhos das nostalgias
saudades como urtigas
cultivo de jardins floridos
como podemos versejar
sobre tantos riscos
o de sofrer, por exemplo,
quando poderíamos tomar
um calmante ou um sorvete
ou mesmo uma bebida ardente ?
talvez gostemos de andar
no fio da navalha, fustigar
feridas, extuporar tumores,
amargar desventuras
para, enfim, trazer alguma luz
em palavras escritas
na introspecção que incendeia
as veias ardem pela pressão
do sangue que se agita
buscas expressas em imagens
toscas verdades
para, depois de concebida,
divulgada ou esquecida,
parecer como algo estranho
de alheia origem, deserdada,
quando notada nos é estranha
já foi parida, sofrida, bastarda
perdeu a emoção da construção
tijolo a tijolo, adquiriu contornos,
se delineou, ganhou liberdade,
interpretada livre em cada imaginação,
filha da vida, assumida maturidade
já não nos pertence mais...