CHUVAS DE SETEMBRO
" Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião... "
Eu vinha feliz da vida,
embaixo do meu gurada-chuva novinho,
um enorme "parapluie" sendo inaugurado
na melhor hora...
... nestas chuvas de setembro...
Desviando
das poças d'água,
pequenos lagos,
lagoas de formas variadas,
ao sabor dos acidentes naquela geografia
produzida por mãos humanas:
asfalto esburacado,
calçadas gastas,
terrenos baldios com
restos do que fora uma casa,
cobertos de vegetação teimosa,
que também surge das frestas
como espirros da terra
querendo se ver livre
daquelas vestes sufocantes.
Sempre que ando assim
sob a chuva lenta e cantadeira,
fica feliz em mim a criança
que tem cá dentro o melhor dos recantos,
com seus olhos curiosos, que o tempo
nem qualquer ilusão enganadora
conseguiu tornar enfraquecida ou cega.
Toma assento na primeira fila e vai
logo falando de tudo que eu gosto de lembrar
e se a realidade é dentro de cada um de nós
é com esta chuva que me vêm sorrisos largos
cheiros e rostos e toda a vida...
... é só deixar as portas abertas!
Chuvas de setembro, cantoria de poucas notas,
alguns tons mais agudos quando pinga fininha
sobre as poças transbordantes;
e ao fundo aquele chiado
tristonho e calmo como um mantra
que me leva pra todos os lugares
e também pra lugar nenhum...
pois tudo acontece aqui e agora
enquanto ando pelas ruas feliz
enquanto ando... ando...
jogando estranha amarelinha de
passos ao sabor do acaso
pisa aqui , não, queimou,
ah, agora o pé ta molhado, que importa,
se a cuca ta de bem...
se ele me ouve e me responde,
olha só, ovuiu?...
... era o som da carroça descendo estrepitosa
no asfalto novinho, vejam só...
Quando foi isso? Faz tempo... faz tempo...
Chuva e vento, chuva e tempo e este
doido carrossel
girando,
girando,
a vida não é pra frente,
nem pra trás ...
... a vida é Giro...