O BAILARINO
Rodopia o corpo nu diante do mundo,
no palco do teatro onde mora.
No embalo do acaso,
sem ufania,
sem aplauso,
a expor suas verdades intrínsecas,
bailando lhano pela liberdade,
a flutuar,
desenhar saltos e passos,
como anjo,
como pássaro,
como índio,
um curumim alado a derramar estrelas
de instinto e libido,
de pureza e delícia,
com sensualidade e candura
enleadas entre si.
O corpo nu em seu leve rodopiar
diante dos concretos,
dos olhos das pirâmides frias
afixadas no asfalto das ruas,
encerradas nos pulmões tísicos
dos valores hodiernos.
O corpo liberto das couraças da moda,
do vazio luxuoso das lojas.
Gira, gira, gira
o corpo despido
do tempo perdido...