Nos moldes de Álvaro de Campos

Sentado na cadeira, com um dos pés para cima da bancada

E o vento do ar condicionado na minha face.

Navego!

Amo a internet

Cada centímetro virtual, seja ele um byte ou um pixel,

É parte de mim e sou parte deles

O arquivo transferido passa de um lado para o outro

Mas não deixa de estar onde estava antes

Vira dois, para virar quatro, e oito, e muitos

Cada 0 e 1 que surge em nos Portos de outras cidades

Não deixa de existir no meu Porto

E eu vejo tudo isso com alegria e êxtase

Encontro um navio pirata.

Ahoy, ahoy!

Navegar de uma confortável cadeira com braços

Óculos onde estaria um tapa-olho

Pilhar músicas e filmes que não me pertencem por lei

Mas que também são meus

Porque eu sou cada música e cada filme de cada download

E por isso tenho direito sobre eles

Avast, ye scurvy rat! Hoy-lá, hoy-lá-hoooooy!

Amo cada letra digitada nesse mar que de tão desorganizado

Se organiza sozinho

Amo esse caos!

E ficar madrugada adentro como um pirata

E procurar os melhores torrents como um pirata

E baixar cracks e keygens como um pirata

E criticar o Bill Gates e a Microsoft como um pirata

Ah eh eh eh eh eh eh eh eh!

Ah, meus usernames

E as senhas que invento, esqueço, resgato, esqueço até criar outra conta.

Ah, as dezenas de cadastros semanais em serviços que não vou usar

Os cliques acidentais em propagandas de produtos que não interessam

Os plugins, os addons, os skins, os temas, as barras personalizadas!

Eu sou tudo isso porque tudo isso me pertence.

Ah, os dados que voam de um lado para o outro

Com tanta velocidade e passando por tantos portos

E que só eu vejo o quanto eles todos são um só.