A Bênção da Chuva
Perdido na buscada solidão
para tentar fugir da angústia.
Atira-se o vento como chicote
sobre as frestas da janela.
Brada a sua voz possante,
como num urro de fúria guerreira.
Dentro do quarto, um olhar sem vida,
um rosto sem expressão.
Divagam os pensamentos sem objetivo
numa mecanicidade vazia.
Sem lógica, eles vão e vêm,
circulam como satélites em torno da cabeça.
Está longe de si,
pensa nos muitos que nascem
e nos outros tantos que morrem,
São milhares, milhões, bilhões,
um planeta super-habitado
e cheio de problemas.
Atrás do vento, parece vir a tempestade,
escurece prematuramente.
Relampejar, clarões de luz em meio à penumbra,
vozes dos trovões.
Havia uma inquietação visceral do corpo,
agora existe uma calma anestésica.
Surgem ideias, movimentam-se sonhos
que convertem-se em delírios.
Compara realidade e fantasia.
Por um instante sente
que estar vivo pode ser perigoso.
Entretanto, se morto estivesse,
não haveria algum risco?
Efetivamente, por um momento,
tudo isso pouco importa.
Entretém-se com o barulho da chuva
que desaba forte.
Agrada-lhe a inquietação da água
a lavar-lhe a janela.
Gosta do som dos pneus
a deslizarem sobre o asfalto molhado.
Agradável sinfonia de sons da natureza
a mesclarem-se com os ruídos da cidade.
Fechou as portas do peito
como se fosse esst um armário.
Aquietou o coração,
desligou a razão como se apagasse a luz
no apertar da tecla do interruptor.
Algo de sensualidade,
ouve-se uma música que parece distante.
Por engano, deixa-se levar
por um último pensamento.
Quantas dúvidas sem respostas...
Entretanto, inviável prosseguir.
Para então nova ideia pousar-lhe no cérebro.
Todo o tempo será breve,
assim como breves somos todos nós