Livre e Feliz
Relacionamentos e vínculos.
Laços e ligações.
Alguém é prisioneiro.
O ser está subjugado.
Um corpo, um organismo biológico.
Existe uma chama eterna,
uma fagulha de luz do Criador
que habita uma massa orgânica.
Sublime organização celular.
Morada de departamento especial,
o aparelho cardíaco.
Um coração que pulsa
e comanda o ritmo
da vida corporal,
habitáculo de emoções,
portal dos sentimentos.
Anjos mensageiros
da sensibilidade,
da visão integral do cérebro.
Um único ser
e suas duas partes básicas,
da dualidade às dúvidas,
a ambigüidade do todo.
Gaiola dourada
de uma ave imaginária,
chamada Liberdade.
Ave que por vezes
faz-se fugitiva,
para, então, voar muito alto.
Para fugir do cotidiano,
para desvendar o eterno.
Para encontrar o céu.
Voa a levar para muito longe
a angústia
e para tentar encontrar
novamente a pressentida felicidade.
Voa sem barreiras,
convertendo o seu corpo
em simples fluído,
ganhando consistência etérea.
Do ser mantendo
unicamente a alma,
longe muito longe,
lá de cima a observar
o velho planeta.
Voa mais, vai ainda mais longe
e então as muitas esferas
e dentre elas a bela
jóia terrestre.
Visão impactante,
não sabendo se atingiu
a sublime lucidez
ou a suprema loucura.
É o pássaro que brinca
num voo arriscado
sobre a garganta de um imenso
abismo sideral.
Um desafio,
a sensibilidade extremada
a provocar dúvidas e conclusões
da limitada razão.
Necessário estar pronto
para receber novas idéias,
estar disposto a criar
novos pensamentos.
Essencial ter discernimento,
ter sobriedade para diferenciar
o que é realidade
do que é mera ilusão.
Urgente é aprender é conviver
com o infinito,
sem perder a capacidade
de viver no limitado cotidiano.
É preciso profunda serenidade
para ver a aurora da eternidade,
sem perder por completo a razão.
Maravilhoso é ser nutrido
pela sensação
de pressentir o ato da criação
em expansão,
o encanto do movimento.
Sentindo-se acolhido
por presenças invisíveis,
talvez anjos amigos,
ou quem sabe apenas
obra da imaginação.
Desvendando as primeiras lições
sobre a força e a fragilidade,
aprendendo sobre o todo
e a divisibilidade.
Percebendo toda a força
que habita a sua individualidade,
mas se integrando ao todo,
de onde é apenas parte.
Tomando, assim, a ciência
de sua grande busca,
a sua longa procura
que já ocupou muitos dos seus dias.
Pressentindo que de alguma forma
um dia encontrará as respostas
para as dúvidas que o afligem.
Tendo fé, comungando em oração,
crendo que tudo isso um dia
chegará a uma conclusão
e terá um fim.
Avistando a imagem do tempo
como um velho senhor,
um senil guardião
a guardar os grandes mistérios.
Tendo a chave que abre a porta
para a visão do supremo segredo
da evolução do universo.
Para tanto é mister despojar-se de si,
da própria pequenez,
para ter a grandeza
que integra o todo.
Mas não se revela tudo
de uma única vez.
Tamanha liberdade parece
levar a profunda exaustão.
A ave está realizada,
mas sente que é hora de voltar
para o seu ninho corporal,
necessário respeitá-lo.
Agora já não mais é prisioneira,
a porta da gaiola há de ficar aberta.
Não mais a fuga,
mas apenas o passeio.
Indo e vindo,
sabendo o momento
de estar em casa,
mas tendo a certeza
da sua liberdade eterna.