DOMINGO NA PRAIA

DOMINGO NA PRAIA

(Boa Viagem -Recife-PE)

No domingo a cidade dorme.

Na praia, o povo se aglomera:

Vovô, o petiz e a galera.

Garotas, “coroas” com charme,

Desfilam e paqueram faceiras,

De tangas, com cães nas coleiras.

De tudo se vende na orla:

Bronzeador, cremes e pomada.

Algodão doce, mais cocada.

Macaxeiras em caçarola,

Milho, pipocas e sorvete,

O camarão com o rabanete.

Vendem ostras com o limão,

Caipirinhas e caipiroscas.

Pão doce, rocambole e roscas,

Churrasquinhos e salsichão.

Cachorro-quente e picolé.

Só não vi se vendem rapé.

Amendoim, pé-de-moleque,

Caju, laranja, carambola,

Lima, água de coco, graviola.

Ao som de um bom samba de breque.

Há os que também jogam bola,

Tomam cerveja ou coca-cola.

Pois alugam de tudo um pouco,

Lavam carros e lavam motos,

E todos querem tirar fotos,

Como se o povo fosse louco.

Alugam bancos, guarda-sóis.

Só não vi se alugam lençóis.

Como num grande vendaval,

Ao fim do dia tal sujeira

Sobre a areia formou esteira.

Como no fim de um Carnaval,

Os confetes e a serpentina

Que joga o rapaz na menina.

São copos, garrafas, barris,

Pandorgas, papéis e balões.

E com seus baldes e garfões,

Por fim, lá chegaram os garis,

Querendo catar a sujeira

Que, na areia, formou esteira.

Então, lá se vai o pessoal,

A pé, de moto ou bicicleta,

De carros, ou correndo o atleta.

Quase só fica o marginal,

Talvez um turista romântico,

Ou alguém em estudo semântico...

Uns alegres, outros cansados,

Crianças dormindo no colo

E as mochilas a tiracolo.

Vendedores desanimados,

Sem terem féria suficiente

Para alimentar sua gente.

E os garis, na triste labuta,

Varrem a praia de ponta a ponta,

Enquanto a lua não desponta.

Pois sua vida é sempre luta.

Outros sujam, só eles limpam,

Se eles reclamam, os chefes gripam.

Maria do Céo Corrêa
Enviado por Maria do Céo Corrêa em 21/04/2009
Reeditado em 29/11/2014
Código do texto: T1550981
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