O CEGO, CEGO (Cena do cego que não vê com o cego que acha que vê)

(Cena do cego que não vê com o cego que acha que vê)

Por não ver o alvor fenecendo

Por fantasiar a áurea do sol surgindo

Não me faz tão magoado.

Sinto-me consolado mais assim

Mesmo não contemplando a criatura

É singelo testemunhar o seu Criador.

Sem O vê, O vejo dentro de mim

E você? Olha só por olhar

E não vê a natureza desfilando

Por não ver o céu estrelado

Não me faz em nada entristecido

A mim é mais do que bastante

Saber que lá estão elas

Desordenadas, às vezes em paralelas

Guiando cá o meu destino

E você vê a Dalva por estar por perto

E não vê a mais bela, aquela mais distante

E não vê a natureza desfilando

Não ver a beleza da flor

Invejar do beijo do beija flor

Saciando a sua sede

Não me atormenta tanto.

Sinto o doce do seu perfume

Sinto o seu espinho protetor.

E qual o cheiro da sua flor?

Se flor você não vê e nem flor você tem

E não sente a natureza perfumando

Não me angustia em não ver

O leito correndo em liberdade

Abeirado pela floresta viva

Saciando o campo sedento

E depois de longa estrada

Descansar em outras águas.

Entristece-me a hostilidade do ímpio

Maculando sem dó, sem piedade

Envaidecido vê a natureza desvirginando

Sentirá saudade do brilho do sol

O seu céu não terá mais estrelas

A flor não sentirá o beijo do beija-flor

O rio não chegará ao seu destino

Eu cego solitário conversarei com o meu mundo

O mudo ímpio não tem mais o que falar

Levanta às mãos em súplica

Suplicando uma migalha de vento

Vendo-o assim me faz melhor não enxergar

Vilson Caraíbas
Enviado por Vilson Caraíbas em 11/04/2009
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