Palavra
A palavra é minha aia
Minha serva cega e surda
A perseguir laboriosamente
O que devo dizer,
O que devo sentir,
O que devo verbalizar.
Mas há coisas indizíveis
Coisas de silêncio ritual,
Coisas que são substanciais
Absolutas
E condensadas em si.
Como oxigênio
Como suspiro
E poesia espalhada
no pólen
E levada pelos passarinhos
pelos descaminhos da vida.
A palavra é minha aia
Nasce com alvorecer
E, mesmo quando estou rouca
Lá está a palavra incrustada no corpo,
Cristalizada na alma
Como amálgama
Como véu que deixa ver e esconde
Como o vento que sussurra
Estranhos segredos em silêncio.
Observa a aia.
Reverencie a aia
Seu labor, seu som, sua cor
E sobretudo sua história.
Conte as palavras mais importantes de
Sua vida.
Serão crenças,
Serão valores
Será você mesmo picado entre fonemas,
E disperso no vento.