A FELICIDADE DE SENTIR O MUNDO...
Quero o mais rápido possível inteirar-me:
Dos dias luminares e das noites lunares
Das miscelâneas azulíneas das galáxias
Dos passeios triunfais de cometas e estrelas
Alimentando a imaginação de nossas cabeças
Dos inverossímeis abraços de sóis e luas
Dos mares de águas calmas e cores revoltas
Das enormes baleias e dos saltos dos golfinhos
Dos rebanhos e oceanos de flores campestres
Dos pássaros raros, multicores a sobrevoá-las
Das façanhas dos animais, sua nobre luta pela vida
Das diferentes peles macias e nuas
E a reação de minha pele a encostar-se nelas
Dos despertares e ultimares de lindos amores
Das puras e reais amizades, da cumplicidade
Das infâncias e juventudes, dos afetos familiares
Dos ferozes mistérios das grandes cidades
Das luzes fracas sobre as ruas, da pobreza, da orfandade...
E tudo mais seja, que a alma do homem que sonha
Tão bem aproveita:
Sensações, visões, odores, sabores, decepções...
Nem importa se de minha lavra
Mas quero ouvir esse despejar de frases
Inconsequente e fluente
Num desassossego alegre do espargir de imagens
Como num quebrar de frasco de um raro perfume suave
Quero-as aos sentidos, aos olhos, aos ouvidos, em nuances...
E certo que preciso urgentemente dessa ajuda...
Pois não é que há em mim
Algo que trava, auto-condena
Este estado natural de querer ser feliz,
Este inocente admirar da natureza, da beleza
Este singela e inata infantilidade do olhar?
Recobre-se de nuvens negras, meu cérebro
Que encara este livre sentir
Com uma automática reflexão azeda
Condenando e renegando estas sensações
E me desnorteia dos próprios anseios de simplicidade...
Conseguirei um dia libertar-me disso
E não mais represarei
Esse oceano de emoções
Que me corre às veias?
Quero muito a felicidade de sentir o mundo
De dentro para fora
Com a gratidão do que ele me presenteia
De fora para dentro...