Canto

Canto aquilo que penso,

deixo cheiro a incenso

a pairar por onde vou.

Partilho as emoções,

lanço ao vento ilusões

que o coração desenhou.

Danço quase sempre nu,

despido de qualquer tabu,

isento de hipoteca.

Descalço, co’a alma a vibrar,

não dou pela hora a passar

e ergo a minha caneca.

Infrinjo as leis bacocas,

obrigo-os a sair das tocas,

chamo os bois pelo nome.

Fervilha-me o sangue nas veias,

no meu peito marés-cheias

que a tirania consome.

Pinto com pincéis de fogo,

escrevo fora de jogo

sem renegar o que fiz.

Se amanhã morrer num canto,

não me causará espanto,

é assim que sou feliz.

Gaspar Silva
Enviado por Gaspar Silva em 15/03/2009
Código do texto: T1487266